Alexandre de Moraes reativa perfis bloqueados às vésperas de visita da CIDH ao Brasil

Alexandre de Moraes reativa perfis bloqueados às vésperas de visita da CIDH ao Brasil

Brasil Unido


 Perfis bloqueados por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, foram reativados na última sexta-feira, poucos dias antes da chegada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos ao Brasil. A visita da entidade tem como objetivo avaliar a situação da liberdade de expressão no país, o que levou especialistas e internautas a questionarem o momento escolhido para a reativação das contas.


Entre os perfis restabelecidos estão o do influenciador Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, do empresário Luciano Hang e dos jornalistas Guilherme Fiuza e Bernardo Küster. Todos foram alvos de bloqueios dentro do Inquérito das Fake News, conduzido por Moraes e que tem sido alvo de amplos debates desde sua instauração. Os bloqueios foram justificados pelo STF como uma forma de conter a disseminação de informações falsas e ataques contra instituições, mas críticos apontam que as decisões extrapolam os poderes da Corte e limitam a liberdade de expressão.


A proximidade entre a liberação dos perfis e a chegada da Comissão Interamericana levantou suspeitas entre especialistas, que enxergam a medida como uma tentativa de suavizar críticas à atuação do Judiciário brasileiro. O advogado Paulo Faria, que representa o ex-deputado Daniel Silveira, um dos alvos das decisões judiciais do STF, classificou a reativação das contas como uma manobra para evitar constrangimentos internacionais. Segundo ele, a decisão não foi motivada por uma mudança de entendimento, mas sim pela necessidade de apresentar uma imagem mais favorável do Brasil perante a entidade ligada à Organização dos Estados Americanos.


Desde 2019, o Inquérito das Fake News tem sido uma das principais ferramentas do Supremo no combate à desinformação, mas sua condução tem sido questionada por organizações de direitos humanos, que alegam que as medidas adotadas, como bloqueios de perfis e censura de conteúdos, comprometem o direito fundamental à livre manifestação do pensamento. A falta de transparência em algumas decisões e a ausência de uma regulamentação clara para tais bloqueios são pontos que geram ainda mais controvérsias.


A visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos acontece em um momento delicado para o Brasil. Nos últimos anos, o país tem enfrentado debates acirrados sobre o equilíbrio entre o combate à desinformação e a proteção da liberdade de expressão. A relatoria da CIDH para a Liberdade de Expressão tem monitorado a situação e deve se reunir com diversos setores da sociedade civil, incluindo jornalistas, advogados e representantes do governo, para entender melhor o cenário atual e avaliar se as medidas judiciais adotadas estão em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos.


Os apoiadores de Alexandre de Moraes e do STF argumentam que as restrições impostas a determinados perfis foram necessárias para conter ataques contra instituições democráticas e impedir a disseminação de discursos extremistas. No entanto, críticos apontam que a ausência de critérios objetivos e a falta de um devido processo legal na aplicação dessas sanções fazem com que o Judiciário avance sobre prerrogativas que deveriam ser do Legislativo.


A reativação das contas bloqueadas também ocorre em meio a um cenário político polarizado, onde decisões judiciais frequentemente são interpretadas sob a ótica partidária. Enquanto alguns veem a medida como um aceno à transparência e à reavaliação de posicionamentos, outros a consideram um gesto calculado para evitar críticas internacionais.


A Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem o papel de garantir que os países-membros da Organização dos Estados Americanos respeitem os princípios fundamentais de direitos humanos, incluindo a liberdade de expressão. A expectativa é que a visita da relatoria da CIDH ao Brasil resulte em um relatório detalhado sobre a situação da liberdade de imprensa e manifestação no país, podendo recomendar mudanças ou ajustes nas práticas adotadas pelo Judiciário.


A polêmica sobre os bloqueios de perfis e a posterior reativação dessas contas reforça a necessidade de um debate mais amplo sobre o tema no Brasil. Especialistas defendem a criação de mecanismos mais transparentes e jurídicos para a remoção de conteúdos considerados prejudiciais, evitando que tais decisões fiquem exclusivamente nas mãos de um único ministro ou instância do Judiciário.


A chegada da CIDH ao Brasil certamente aumentará a atenção sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal e sobre como o país tem lidado com os desafios impostos pelo ambiente digital e pela disseminação de informações falsas. Seja qual for o desdobramento dessa visita, a discussão sobre a liberdade de expressão e os limites da atuação do Judiciário continuará sendo um tema central no debate público brasileiro.