A defesa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, apresentou um pedido formal ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitando o arquivamento do inquérito que investiga sua suposta omissão nos ataques ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro. O documento protocolado argumenta que Torres não foi informado previamente sobre qualquer risco iminente de invasões aos prédios públicos antes de sua viagem aos Estados Unidos e que, ao tomar conhecimento dos atos de vandalismo, teria acionado seu substituto para monitorar a situação.
Os advogados do ex-ministro contestam a narrativa de que ele teria admitido, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Legislativa do Distrito Federal, que recebeu relatórios de inteligência apontando a possibilidade de manifestações violentas. De acordo com a defesa, essa interpretação distorce suas declarações, pois Torres afirmou não se lembrar de ter tido acesso a tal informe antes de sua viagem. Para reforçar o argumento, o pedido destaca que a subsecretária responsável pelo relatório não teria entregue o documento diretamente a ele, o que invalidaria a acusação de negligência.
Outro ponto central da solicitação de arquivamento está na avaliação feita pelo procurador da República, Carlos Henrique Martins Lima, que analisou as provas disponíveis e concluiu que não há indícios suficientes para comprovar que Torres agiu deliberadamente para facilitar os atos de invasão e depredação em Brasília. Segundo essa avaliação, a ausência de provas que demonstrem uma omissão intencional enfraquece a tese de responsabilidade direta do ex-ministro na crise de segurança pública enfrentada naquela ocasião.
A defesa de Torres também sugere que as autoridades ouçam o depoimento do tenente-coronel Rosivan Correia de Souza, que, segundo os advogados, poderia confirmar que o ex-ministro não recebeu o relatório antes de viajar. Para os representantes de Torres, essa testemunha seria fundamental para esclarecer a sequência dos fatos e afastar qualquer suspeita de conduta omissiva ou criminosa por parte do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Desde que foi detido preventivamente em janeiro de 2023, Anderson Torres tem reiterado sua inocência e sustentado que sua ausência do país naquele período não configurou abandono de função. Ele alega que sua viagem aos Estados Unidos havia sido planejada previamente para passar um período de descanso com sua família e que não havia, até aquele momento, qualquer indicativo de que os atos de 8 de janeiro ocorreriam com a gravidade que se viu. O ex-ministro foi preso sob suspeita de facilitar a invasão das sedes dos Três Poderes por manifestantes contrários ao resultado das eleições de 2022, mas sua defesa argumenta que a prisão foi baseada em suposições infundadas.
O pedido de arquivamento protocolado pela defesa surge em um momento em que o caso ainda gera debates sobre a responsabilidade de autoridades públicas nos episódios que marcaram a tentativa de invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Setores políticos e jurídicos continuam divididos sobre a necessidade de punição aos responsáveis, enquanto aliados de Torres consideram que ele tem sido alvo de um processo injusto.
A PGR ainda não se manifestou sobre a solicitação, mas fontes ligadas ao órgão indicam que o procurador-geral Paulo Gonet analisará o pedido antes de tomar qualquer decisão. Se a Procuradoria optar pelo arquivamento, o caso pode ser encerrado sem uma denúncia formal contra Torres. Caso contrário, o processo seguirá para novas etapas de investigação e possíveis desdobramentos judiciais.
Enquanto isso, a defesa do ex-ministro segue reforçando a tese de que não houve dolo ou omissão proposital por parte de Torres. Seus advogados afirmam que ele cumpriu suas responsabilidades institucionais e que a crise de segurança de 8 de janeiro deve ser analisada de maneira ampla, levando em consideração todos os agentes envolvidos e as circunstâncias da época. Para eles, manter o inquérito aberto sem provas concretas representaria uma injustiça e um precedente perigoso para futuras investigações.
A expectativa agora é pela resposta da PGR e pelos próximos passos do processo, que pode ter implicações tanto para o ex-ministro quanto para outras figuras que estavam à frente da segurança pública no período dos ataques. O desfecho do caso também pode influenciar o cenário político, especialmente no que diz respeito à responsabilização de autoridades ligadas à gestão anterior.