Lula anuncia novos gastos e insiste na narrativa de “país destruído”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta segunda-feira (24). Durante seu discurso, o petista voltou a criticar a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que pegou um “país destruído” e que, após dois anos de governo, está promovendo sua reconstrução. No entanto, seus argumentos entram em contradição com diversos indicadores econômicos que mostram uma realidade diferente.
Entre as principais medidas anunciadas, Lula confirmou o pagamento da poupança estudantil do programa Pé-de-Meia e a ampliação do Farmácia Popular, que agora oferecerá todos os 41 medicamentos de sua lista gratuitamente.
Pagamento da poupança estudantil começa nesta terça-feira
Lula destacou que o programa Pé-de-Meia garantirá um pagamento de R$ 1 mil para estudantes do ensino médio que tenham passado de ano, além de depósitos mensais de R$ 200 para os que frequentarem as aulas regularmente. Aqueles que realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também receberão um bônus adicional de R$ 200, podendo acumular até R$ 9,2 mil ao longo do programa.
Contudo, o presidente não mencionou um ponto controverso: o atual regime de progressão continuada nas escolas públicas do Brasil permite que alunos sejam aprovados apenas com frequência mínima, sem qualquer exigência de desempenho acadêmico. Isso levanta questionamentos sobre o real impacto do programa na qualidade da educação.
Além disso, Lula anunciou o Pé-de-Meia Licenciatura, um incentivo para estudantes com boas notas no Enem que desejam seguir a carreira de professor. O governo argumenta que essa é uma forma de fortalecer o setor educacional e incentivar mais jovens a ingressarem na docência.
Farmácia Popular terá medicamentos 100% gratuitos
Outra medida destacada pelo presidente foi a ampliação do programa Farmácia Popular, que agora cobrirá 100% dos medicamentos disponíveis em sua lista. Antes, o programa oferecia descontos significativos, mas nem todos os remédios eram completamente gratuitos.
Segundo Lula, a medida beneficiará principalmente pacientes com doenças crônicas como diabetes, hipertensão e asma. O acesso será simples: bastará apresentar receita médica e documento de identidade em uma farmácia credenciada para retirar os medicamentos sem custo.
Além disso, o programa passará a oferecer fraldas geriátricas gratuitamente, uma novidade que visa atender a população idosa e pessoas com necessidades especiais.
Gastos públicos continuam em alta
O anúncio de novas despesas ocorre em um momento de preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. Apesar das promessas de responsabilidade fiscal, o governo tem ampliado seus gastos, o que levanta alertas entre economistas e investidores.
Na mesma segunda-feira, logo após o pronunciamento de Lula, o mercado reagiu negativamente: o dólar registrou alta e a Bolsa de Valores apresentou queda. O cenário reflete a insegurança dos investidores diante da política econômica do governo, que tem priorizado aumentos de despesas sem apresentar contrapartidas claras em termos de arrecadação ou cortes de gastos.
Contradições com a realidade econômica
O discurso de Lula contrasta com dados recentes sobre a economia brasileira. Embora o presidente afirme que herdou um “país destruído”, alguns indicadores apontam o contrário. No final de 2022, a inflação estava em queda, o desemprego registrava redução e as contas públicas mostravam um superávit primário.
Além disso, programas sociais como o Auxílio Brasil, substituído pelo Bolsa Família, já haviam sido ampliados na gestão anterior. Portanto, a retórica de que o governo atual está “reconstruindo” o país ignora avanços já conquistados antes de sua posse.
Economistas alertam que o excesso de gastos públicos sem um planejamento adequado pode resultar em aumento da dívida e inflação, prejudicando especialmente as camadas mais pobres da população, que são as mais impactadas pelo aumento do custo de vida.
Reações da oposição
O pronunciamento de Lula gerou forte reação da oposição. O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou a fala do presidente e a classificou como uma tentativa de manipular a percepção pública sobre a economia.
– Isto é uma vergonha. O governo tenta criar uma narrativa de terra arrasada para justificar sua política de gastos irresponsáveis – declarou Mourão.
Outros parlamentares da oposição também se manifestaram nas redes sociais, apontando inconsistências no discurso do petista e questionando a real eficácia das medidas anunciadas.
Popularidade em queda e tentativa de recuperação
A fala de Lula também ocorre em um momento de baixa popularidade. Pesquisas recentes apontam um aumento na insatisfação com o governo, impulsionado por questões como a alta dos preços dos alimentos e combustíveis, além da percepção de que a economia não tem avançado no ritmo esperado.
Diante desse cenário, o presidente busca reforçar sua base eleitoral com anúncios de novos benefícios sociais e medidas populistas. No entanto, resta saber se essas ações serão suficientes para reverter a crescente desaprovação entre os brasileiros.
Enquanto isso, a população aguarda para ver os desdobramentos dessas novas medidas e se, de fato, elas contribuirão para a melhoria das condições de vida no país.