O ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, revelou que precisou recorrer ao ex-presidente Jair Bolsonaro para conseguir ser recebido pelos comandantes das Forças Armadas durante a transição de governo, no final de 2022. A declaração foi feita durante uma entrevista ao programa Roda Viva, na noite de segunda-feira (10). Segundo Múcio, ao assumir o cargo, encontrou dificuldades para estabelecer contato com os chefes militares e, diante desse obstáculo, decidiu buscar a ajuda do então presidente.
Na entrevista, o ministro explicou que conhecia Bolsonaro há muitos anos e que ambos mantinham uma boa relação. Durante sua trajetória política, Múcio foi líder do governo no Congresso quando Bolsonaro ainda era deputado federal. Essa proximidade foi um fator decisivo para que ele procurasse o ex-presidente e solicitasse apoio para que a transição ocorresse de forma tranquila. Múcio relatou que, ao abordar Bolsonaro, deixou claro que seu interesse era garantir que o processo fosse pacífico e que a colaboração entre os governos beneficiaria a todos os envolvidos.
O pedido foi atendido prontamente por Bolsonaro, que telefonou para os comandantes das Forças Armadas e facilitou o contato entre eles e Múcio. Essa atitude, segundo o ministro, contribuiu para que a transição ocorresse sem maiores conflitos dentro da estrutura militar. O relato de Múcio chama atenção ao demonstrar que Bolsonaro atuou diretamente na facilitação do diálogo entre as Forças Armadas e o novo governo, um fato que contrasta com algumas narrativas que circularam sobre sua postura no período de transição.
A Polícia Federal tem investigado possíveis tentativas de golpe de Estado associadas ao entorno do ex-presidente, levantando suspeitas sobre sua participação em movimentações para interferir na transição. No entanto, o relato de Múcio traz um elemento novo ao debate, sugerindo que Bolsonaro, ao invés de criar obstáculos, ajudou a garantir que o processo ocorresse de maneira institucional e pacífica. Essa informação pode influenciar a forma como os eventos da época são analisados, especialmente no que diz respeito à postura do ex-presidente diante da mudança de governo.
A declaração do ministro também destaca um aspecto pouco explorado até então: a resistência inicial dos comandantes militares em receber o novo ministro da Defesa. Esse detalhe indica que havia um clima de tensão dentro das Forças Armadas naquele momento, o que poderia ter dificultado a transição caso não houvesse uma intervenção para mediar a situação. A busca de Múcio por Bolsonaro como intermediário revela que, mesmo com a troca de governo, o então presidente ainda exercia influência significativa sobre os chefes militares.
A relação entre o governo Lula e as Forças Armadas tem sido um tema de constante debate desde o início da gestão. A postura dos militares durante a transição e nos meses seguintes foi alvo de análises e especulações, especialmente após os eventos do dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestações resultaram em invasões aos prédios dos Três Poderes, em Brasília. A revelação de Múcio pode trazer novos desdobramentos sobre o papel das Forças Armadas nesse contexto e reforçar a necessidade de um olhar mais aprofundado sobre o funcionamento da instituição dentro da democracia brasileira.
Além disso, a fala do ministro levanta questionamentos sobre como o novo governo lidou com as Forças Armadas nos primeiros meses de gestão. A dificuldade inicial em estabelecer diálogo com os comandantes pode indicar que havia desconfiança ou resistência dentro da cúpula militar, um fator que pode ter contribuído para a complexidade do cenário político no início de 2023. A decisão de Múcio de buscar apoio em Bolsonaro também sugere que, naquele momento, a prioridade era garantir estabilidade e evitar confrontos desnecessários.
A entrevista concedida ao Roda Viva traz à tona informações que podem impactar o debate político atual, especialmente no que diz respeito às investigações em andamento. O depoimento de Múcio pode ser utilizado como argumento por aqueles que defendem que Bolsonaro não teve participação em qualquer tentativa de desestabilização institucional. Ao mesmo tempo, reforça o entendimento de que a relação entre o governo e os militares exigiu negociações e mediações para que a transição ocorresse de forma relativamente tranquila.
A revelação do ministro da Defesa pode provocar reações tanto no meio político quanto no militar. Para aliados do ex-presidente, o relato de Múcio pode servir como um ponto favorável à sua defesa diante das investigações em curso. Já para críticos, a fala do ministro pode ser interpretada de diferentes maneiras, a depender do contexto em que for analisada. De qualquer forma, o depoimento traz um novo elemento à discussão sobre o papel de Bolsonaro na transição de governo e pode influenciar a forma como os acontecimentos do final de 2022 são revisados e compreendidos.