O Relógio Corre Contra Bolsonaro
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou mais um pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para suspender o prazo de resposta à denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão reforça a posição do magistrado de que não há justificativa para estender os prazos processuais, apesar das alegações da defesa sobre o acesso aos autos.
A negativa de Moraes representa um obstáculo estratégico para Bolsonaro e seus aliados, que tentam postergar os desdobramentos do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe. A cada movimento judicial, o cerco jurídico se fecha, e a resposta do STF evidencia que o tribunal está determinado a manter o ritmo da investigação.
Mas qual a real estratégia por trás dessas movimentações? O que Bolsonaro e seus advogados buscam ao insistir nesses pedidos?
Um Novo Pedido, Uma Nova Rejeição
Essa não foi a primeira vez que Bolsonaro solicitou mais tempo para responder à acusação. Anteriormente, a defesa havia pedido um prazo de 83 dias para preparar sua resposta, argumento que Moraes negou prontamente. Agora, em uma nova tentativa, os advogados alegaram que ainda não tiveram acesso completo aos autos do processo.
No entanto, Moraes reafirmou que todos os documentos citados na denúncia estão disponíveis na Petição 12.100. Além disso, declarou que não há qualquer fundamento para a nova solicitação, ressaltando que o ex-presidente já dispõe de todos os elementos necessários para se defender.
A decisão segue o entendimento do STF de que o denunciado deve se basear nos fatos apresentados na acusação, com pleno acesso às provas reunidas pelo Ministério Público. Mas se as provas já estão acessíveis, por que Bolsonaro insiste em alegar o contrário?
O STF Como Campo de Batalha
Na última quarta-feira (26), advogados de Bolsonaro e de Walter Braga Netto – ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 – compareceram ao STF para reuniões estratégicas.
José Luís de Oliveira, advogado de Braga Netto, buscou uma conversa com o ministro Cristiano Zanin, que preside a Primeira Turma do STF e será responsável por julgar a denúncia contra o general, Bolsonaro e outros 32 investigados.
Ao deixar o encontro, Oliveira foi enfático:
“Um julgamento dessa magnitude precisa garantir o amplo acesso à defesa.”
Ele também alertou sobre a necessidade de um processo transparente, dado o peso institucional dos envolvidos. A preocupação não é apenas com a legalidade dos atos, mas com a percepção pública do julgamento. Um eventual erro procedimental poderia ser explorado politicamente para questionar a legitimidade da condenação.
Mas a transparência alegada pela defesa é um fator real ou uma tentativa de criar uma narrativa favorável?
O Silêncio de Moraes e a Estratégia da Defesa
Enquanto Oliveira expôs publicamente sua preocupação, o advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, preferiu manter discrição após sua reunião com Moraes. Sem declarações à imprensa, o conteúdo da conversa entre os dois permanece um mistério.
A recusa em comentar pode indicar uma estratégia deliberada. Bolsonaro e seus aliados têm apostado em uma defesa que mescla ações jurídicas e um discurso político direcionado à sua base. A insistência em alegar falta de acesso aos autos pode servir não apenas para retardar o processo, mas também para reforçar a narrativa de que o ex-presidente está sendo perseguido pelo Judiciário.
Mas até que ponto essa estratégia será eficaz?
As Próximas Etapas e os Riscos Para Bolsonaro
Com a decisão de Moraes, Bolsonaro e os demais investigados precisam apresentar sua defesa dentro do prazo estipulado. Caso contrário, o julgamento poderá avançar sem as considerações da defesa, o que pode resultar em um desfecho ainda mais desfavorável para o ex-presidente.
O processo contra Bolsonaro é um dos mais delicados da história recente do Brasil. A acusação de envolvimento em uma tentativa de golpe coloca seu futuro político em risco e pode impactar significativamente o cenário eleitoral de 2026.
O que acontecerá se o STF rejeitar todas as contestações da defesa e avançar para o julgamento? Quais serão os reflexos políticos dessa decisão?
A única certeza, por enquanto, é que essa batalha jurídica ainda está longe de acabar.