Moraes tenta encurralar General, o acusa de mentir e toma resposta na cara

Justiça

O clima no Supremo Tribunal Federal (STF) esquentou durante um depoimento envolvendo o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército Brasileiro. Em uma audiência que prometia ser apenas mais uma etapa de apuração, o embate entre o ministro Alexandre de Moraes e o militar acabou ganhando tons de confronto, com acusações de mentira e respostas firmes. O episódio reforça o ambiente de desconfiança entre o Judiciário e setores das Forças Armadas.

O episódio polêmico: a “minuta da GLO”

Um dos principais pontos do depoimento foi a suposta existência de uma minuta de decreto para a implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que teria como objetivo sustentar juridicamente uma possível intervenção militar após as eleições de 2022. De acordo com parte da imprensa, a narrativa indicava que o general teria dado voz de prisão ao então presidente Jair Bolsonaro ao discordar do conteúdo dessa proposta.

No entanto, Freire Gomes desmentiu categoricamente essa versão. Segundo ele, a história foi mal interpretada e distorcida. O general explicou que nunca deu ordem de prisão a Bolsonaro, tampouco considerou a minuta algo sério ou viável juridicamente. Para o ex-comandante, a imprensa exagerou ao transformar um cenário interno de discussão institucional em uma tentativa de golpe.

Moraes pressiona e acusa de mentira

Visivelmente irritado com o depoimento do general, o ministro Alexandre de Moraes interrompeu e partiu para o confronto verbal. Em um tom severo, Moraes insinuou que Freire Gomes estaria mentindo em sua fala atual, contrariando o que teria dito anteriormente à Polícia Federal. O magistrado foi direto:

“Ou o senhor falseou a verdade na polícia, ou está falseando a verdade aqui.”

Na sequência, Moraes advertiu:

“Antes de responder, pense bem. A testemunha não pode deixar de falar a verdade. Se mentiu na polícia, tem que falar que mentiu na polícia. Não pode agora no STF dizer que não sabia.”

A pressão do ministro buscava, claramente, deixar o general em uma posição desconfortável, colocando-o diante de uma escolha: assumir que mentiu em algum momento ou reafirmar sua atual posição sob risco de ser acusado formalmente de falso testemunho.

A resposta firme do general

Sem se deixar intimidar, Freire Gomes reagiu com a firmeza típica de um militar com meio século de carreira. O ex-comandante respondeu de forma direta e clara:

“Com 50 anos de Exército, eu nunca mentiria.”

Essa declaração não apenas foi um recado direto ao ministro, como também uma demonstração de confiança em sua própria integridade. Para o general, sua trajetória dentro das Forças Armadas é sua maior credencial de credibilidade. E, diante disso, ele reafirmou que jamais faltaria com a verdade em uma instância como o STF, ainda que sob pressão.

Clima tenso reflete embate mais profundo

O episódio é mais do que uma simples divergência sobre fatos. Ele reflete um embate mais profundo entre duas instituições que, nos últimos anos, passaram a se observar com crescente desconfiança: o Judiciário e as Forças Armadas. Desde as eleições de 2022, o ambiente político brasileiro vem sendo marcado por acusações, investigações, e uma constante tensão institucional.

Nesse contexto, a atuação de Alexandre de Moraes tem sido protagonista. Como relator de diversos inquéritos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, apoiadores e até militares, o ministro tem adotado uma postura firme e, muitas vezes, polêmica. Por outro lado, setores das Forças Armadas têm criticado o que consideram excessos e interferências indevidas do STF em assuntos que envolvem a hierarquia militar e a estrutura do Estado.

Defesa da honra militar

A declaração de Freire Gomes, ao enfatizar sua trajetória de 50 anos, também teve um tom simbólico de defesa da honra militar. Para ele, a integridade de um general do Exército está acima de interesses políticos ou disputas de narrativas. Ao não aceitar ser rotulado como alguém que mente, o general parece ter marcado um limite para a pressão judicial: a honra e a verdade, acima de tudo.

Esse tipo de posicionamento fortalece a imagem de um Exército que, apesar das crises políticas, busca manter sua postura institucional e apartidária — ainda que indivíduos dentro da instituição tenham diferentes opiniões políticas.

Repercussão e desdobramentos

A repercussão do episódio foi imediata. Nas redes sociais, o nome de Freire Gomes rapidamente ganhou destaque, com muitos internautas aplaudindo sua postura firme diante do ministro. Por outro lado, defensores da atuação de Moraes reforçaram que o magistrado apenas cumpre seu papel ao buscar esclarecer contradições em depoimentos.

O episódio também deve influenciar os próximos passos da investigação. A tentativa de identificar eventuais articulações para questionar o resultado eleitoral de 2022 continua sendo uma das prioridades do STF, especialmente no contexto do inquérito das milícias digitais e da suposta tentativa de golpe.

Conclusão: entre a verdade e a pressão

O embate entre Alexandre de Moraes e o general Freire Gomes representa um retrato fiel do atual momento político e institucional brasileiro. De um lado, um Judiciário que tenta firmar sua autoridade e cobrar respostas objetivas diante de suspeitas graves. De outro, um militar que, mesmo pressionado, não abre mão de sua honra e da verdade que acredita estar dizendo.

Independentemente das posições políticas, o episódio reforça a importância do equilíbrio entre instituições, do respeito à verdade e da serenidade nos processos judiciais. Em tempos de polarização, cada palavra pesa — e cada atitude diz mais do que mil declarações.

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