O ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Federal ouça, com urgência, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). O prazo estipulado para essa diligência é de 15 dias e atende a uma solicitação feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O objetivo é apurar uma possível interferência do ex-presidente Jair Bolsonaro no depoimento prestado por Mourão em maio.
A decisão judicial, tornada pública nesta terça-feira (3), coloca o ex-presidente novamente sob o foco da investigação relacionada à suposta tentativa de golpe de Estado ocorrida no período pós-eleições de 2022. A nova fase da apuração tem como ponto central uma ligação telefônica entre Bolsonaro e Mourão, que teria ocorrido dias antes do depoimento do senador à Polícia Federal.
A ligação entre Bolsonaro e Mourão: tentativa de influenciar o depoimento?
De acordo com informações do portal Metrópoles, Jair Bolsonaro teria procurado o senador Hamilton Mourão por telefone pouco antes da oitiva realizada no dia 23 de maio. Durante a conversa, Bolsonaro teria orientado seu ex-vice-presidente a adotar uma postura que o isentasse de qualquer envolvimento com os fatos investigados no inquérito em andamento.
Ainda segundo a apuração, o conteúdo da ligação teria sido revelado por fontes próximas aos investigadores, que agora pretendem confirmar oficialmente se o diálogo de fato aconteceu e se configurou em uma tentativa de obstrução de Justiça ou interferência indevida.
A diligência determinada por Moraes busca esclarecer se o depoimento de Mourão pode ter sido contaminado por essa suposta abordagem. Caso se confirme que o senador foi influenciado diretamente pelo ex-presidente, o caso pode adquirir novos contornos e agravar a situação de Bolsonaro perante a Justiça.
Investigação em curso e o papel da Procuradoria-Geral da República
A medida tomada pelo ministro Moraes atende a um pedido formal da Procuradoria-Geral da República, que tem acompanhado de perto a evolução das investigações que envolvem figuras centrais do governo anterior. A PGR considerou relevante e necessária a apuração da conduta de Bolsonaro em relação ao depoimento de Mourão.
A intenção é verificar se houve tentativa de alinhamento prévio de versões ou mesmo pressão política sobre o senador, o que poderia configurar crime. Caso a Polícia Federal encontre elementos que sustentem essa hipótese, a investigação poderá se aprofundar e até desdobrar-se em novos inquéritos específicos.
Mourão no centro das atenções
Hamilton Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro durante os quatro anos de mandato e hoje ocupa uma cadeira no Senado pelo estado do Rio Grande do Sul, tem mantido uma postura relativamente discreta em relação aos episódios pós-eleitorais. No entanto, sua proximidade histórica com Bolsonaro o coloca em posição estratégica para os investigadores.
A oitiva de Mourão, portanto, ganha ainda mais peso diante das suspeitas levantadas. Se ficar comprovado que ele recebeu algum tipo de instrução ou orientação prévia do ex-presidente, mesmo que de forma informal, seu depoimento poderá ser questionado em termos de veracidade e autonomia.
O silêncio ou a postura evasiva do senador diante dessa nova convocação também poderá levantar suspeitas adicionais sobre seu papel no contexto da investigação.
Bolsonaro e a possibilidade de novas medidas judiciais
Nos bastidores políticos e jurídicos, já se especula sobre a possibilidade de medidas mais duras contra Jair Bolsonaro, inclusive a decretação de prisão preventiva — hipótese considerada extrema, mas que começa a circular entre alguns analistas e operadores do Direito.
Embora ainda não haja qualquer confirmação oficial de que essa medida esteja sendo cogitada pelo STF ou pela PGR, o simples fato de essa possibilidade estar sendo discutida revela o grau de tensão e gravidade do momento para o ex-presidente.
Caso se confirme que Bolsonaro tentou interferir diretamente em uma investigação judicial em curso, ele poderá responder por obstrução de Justiça, o que aumentaria significativamente os riscos jurídicos que já enfrenta.
Reações políticas e impacto institucional
O novo capítulo da investigação vem causando apreensão tanto no meio político quanto no cenário institucional. Aliados de Bolsonaro consideram a situação preocupante e já articulam discursos em defesa do ex-presidente, reforçando a tese de perseguição política. Por outro lado, opositores veem na decisão de Moraes mais um passo no sentido de responsabilizar os envolvidos nas movimentações antidemocráticas de 2022 e 2023.
A atuação de Moraes, marcada por firmeza e rigor desde o início do inquérito das milícias digitais e das manifestações golpistas, continua provocando debates intensos sobre os limites entre o combate ao extremismo e a preservação das garantias constitucionais.
O que esperar nos próximos dias
Com o prazo de 15 dias determinado por Moraes, a Polícia Federal terá que se mover rapidamente para colher o depoimento de Mourão. A expectativa é de que a fala do senador seja decisiva para o encaminhamento do processo e para a definição das próximas ações jurídicas.
Caso Mourão confirme que houve contato prévio com Bolsonaro e detalhe o conteúdo da conversa, os desdobramentos poderão ser explosivos. Se, por outro lado, negar a abordagem ou alegar não ter havido interferência, os investigadores deverão recorrer a outras formas de comprovação, como registros telefônicos e cruzamentos de dados.
Conclusão: tensão crescente e futuro incerto
A nova etapa da investigação evidencia que o cerco jurídico ao ex-presidente Bolsonaro continua se apertando. Com o nome de Mourão agora no centro da apuração, a pressão política e institucional tende a aumentar nos próximos dias.
O país acompanha atento cada novo desdobramento, ciente de que o destino político de uma das figuras mais polarizadoras da história recente do Brasil pode estar prestes a ser decidido. A depender do conteúdo do depoimento de Mourão, o cenário pode mudar drasticamente — tanto para Bolsonaro quanto para o futuro da direita no país.