A “prisão perpétua” está implícita na sentença de Carla Zambelli

Opinião

A recente sentença imposta à deputada federal Carla Zambelli pelo Supremo Tribunal Federal (STF) tem gerado indignação em diversos setores da sociedade. O que está em jogo vai muito além de uma simples pena judicial: trata-se de um exemplo claro de como a justiça pode ser aplicada com pesos e medidas diferentes, dependendo de quem está no banco dos réus.

O Peso da Sentença: Prisão e Multa Impossível

Carla Zambelli foi condenada a dez anos de prisão, uma pena que por si só já é alvo de polêmica e questionamentos. No entanto, o que torna esse caso ainda mais estarrecedor é o valor da multa aplicada à parlamentar: dois milhões de reais.

Esse montante, para a maioria dos brasileiros, especialmente para alguém de classe média como Zambelli, representa uma dívida praticamente eterna. Mesmo após o cumprimento da pena privativa de liberdade, a parlamentar seguirá “presa” a uma obrigação financeira impagável — o que, na prática, configura uma espécie de prisão perpétua disfarçada.

O Que Está Por Trás da Multa Milionária?

Não se pode ignorar que o valor estipulado ultrapassa qualquer senso de razoabilidade. Para alguém que não se beneficiou de esquemas milionários, que não ostenta riquezas ou tem histórico de enriquecimento ilícito, a multa soa mais como uma punição extraoficial — uma forma de garantir que a pessoa, mesmo depois de cumprir a pena, continue atada à condenação pelo resto da vida.

E aqui se encontra um ponto central da crítica: a punição ultrapassa a barreira do cárcere físico e se transforma em uma barreira existencial. Carla Zambelli, mesmo após pagar com sua liberdade, dificilmente conseguirá reconstruir sua vida financeira e profissional. Isso não é justiça — é retaliação.

Dois Pesos, Duas Medidas?

O cenário se torna ainda mais preocupante quando se observa como a Justiça tem agido em outros casos. Políticos envolvidos em escândalos bilionários de corrupção — com provas robustas e confissões — muitas vezes recebem penas brandas, acordos de delação, liberdade condicional ou mesmo benefícios que beiram o absurdo.

Por que, então, uma parlamentar conservadora, que expressa opiniões contrárias ao establishment, é tratada com tamanho rigor? É difícil não enxergar um viés ideológico por trás das decisões. A sensação de que há uma perseguição contra quem desafia o sistema torna-se palpável.

A Condenação Que Não Termina

O aspecto mais cruel dessa sentença não é apenas o tempo de reclusão ou o valor da multa. É o simbolismo de uma prisão que nunca se encerra. Carla Zambelli poderá sair da cadeia, mas sua dívida continuará a impedi-la de tocar sua vida com liberdade. Será impedida de ter bens em seu nome, poderá sofrer bloqueios judiciais constantes e viverá sob a sombra permanente de uma condenação que não se apaga.

Essa forma de punição extrapola o que é moralmente aceitável dentro de um estado democrático de direito. Justiça não é vingança. Justiça não é opressão seletiva.

O Silêncio Diante do Exagero

Outro ponto alarmante é o silêncio das instituições e da mídia tradicional diante desse caso. Quando a justiça é usada como instrumento de repressão política, espera-se que a sociedade civil e os defensores dos direitos humanos se manifestem. Mas, neste caso, o silêncio é ensurdecedor.

Carla Zambelli pode não ser unanimidade, mas isso não justifica o tratamento desigual. Todos têm direito a um julgamento justo, proporcional e equilibrado. E, neste caso, o que se vê é o oposto.

Um Alerta Para Todos

Independente da posição política de cada um, é importante refletir sobre os perigos de se abrir precedentes como esse. Quando o Estado aplica punições desproporcionais a um adversário político, amanhã essa prática pode se voltar contra qualquer cidadão.

Hoje é Carla Zambelli. Amanhã, pode ser qualquer pessoa que ouse divergir das ideias dominantes ou questionar o poder estabelecido.

Considerações Finais

O que está em jogo vai além da liberdade de uma parlamentar. Trata-se do respeito aos princípios constitucionais que garantem isonomia, presunção de inocência, e, sobretudo, a proporcionalidade das penas. Transformar uma multa em prisão perpétua disfarçada é um atentado à dignidade humana.

A sentença contra Carla Zambelli não é apenas uma decisão judicial. É um retrato de como o poder pode ser utilizado para calar, punir e inviabilizar adversários. E isso precisa ser debatido por toda a sociedade — antes que o arbítrio deixe de ser exceção e passe a ser a regra.

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