O ex-presidente Jair Bolsonaro utilizou suas redes sociais neste domingo (7) para se manifestar publicamente sobre o processo que investiga a chamada “tentativa de golpe de Estado”. A publicação ocorre um dia antes de ele ser ouvido pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (8), no âmbito das investigações conduzidas pela Polícia Federal.
Com uma longa lista publicada em seu perfil, Bolsonaro enumera o que considera absurdos e contradições da investigação, em uma tentativa de se defender publicamente das acusações e questionar a conduta das autoridades e da imprensa no caso.
Lista aponta inconsistências da investigação
O ex-presidente trouxe à tona mais de 20 itens, que segundo ele expõem fragilidades e arbitrariedades na apuração. Todos os tópicos citados foram baseados em reportagens veiculadas pela grande imprensa — incluindo veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Estadão, CNN Brasil e UOL. Segundo Bolsonaro, os próprios meios de comunicação que hoje noticiam os desdobramentos da operação já revelaram, em outras ocasiões, informações que colocam em xeque a tese de que havia uma organização golpista em andamento.
Entre os pontos destacados, o ex-presidente menciona declarações de ministros do governo atual, divergências nos depoimentos de investigados, bem como a ausência de provas concretas que liguem diretamente seu nome a qualquer tentativa real de ruptura institucional.
Tentativa de golpe ou narrativa política?
Na avaliação de Bolsonaro, a investigação seria uma forma de perseguição política e uma tentativa de deslegitimar sua trajetória como líder da direita brasileira. Ele aponta que diversas atitudes que agora são tratadas como parte de uma conspiração golpista já haviam sido expostas anteriormente, sem que houvesse qualquer consequência ou indício de que estavam relacionadas a um plano concreto de subversão da ordem democrática.
“Querem transformar especulações em crimes, reuniões em conspirações e críticas em ataques à democracia”, escreveu Bolsonaro na publicação.
Citações da imprensa reforçam discurso de inocência
Curiosamente, a maior parte das informações que embasam os argumentos do ex-presidente foi retirada de reportagens da própria imprensa que hoje divulga os avanços da investigação. Para Bolsonaro, isso revela um duplo padrão no tratamento do caso.
Ele cita, por exemplo, trechos em que a mídia afirma que não havia consenso entre os militares sobre qualquer ruptura institucional, bem como matérias que mencionam que algumas das reuniões tidas como suspeitas tratavam, na verdade, de questões corriqueiras do governo.
Além disso, o ex-presidente destaca a ausência de elementos que comprovem o uso da máquina pública para executar um plano de golpe, algo que, segundo ele, desmonta a narrativa da acusação.
Desabafo antes do depoimento
A postagem acontece em um momento de grande expectativa política e jurídica. O depoimento de Bolsonaro ao STF nesta segunda-feira será um dos mais aguardados desde o início da investigação. Embora já tenha prestado esclarecimentos à Polícia Federal em outras ocasiões, esta será a primeira vez que o ex-presidente falará diretamente sobre a suposta articulação golpista diante dos ministros da Corte.
Para seus apoiadores, a publicação feita nas redes é um recado claro de que Bolsonaro não pretende se calar diante do que considera uma injustiça. Já para seus críticos, trata-se de mais uma tentativa de mobilizar a opinião pública e desviar o foco dos fatos apurados.
Impacto político e polarização
Independentemente do desfecho jurídico do caso, o episódio tem servido para reacender os ânimos entre os campos políticos no Brasil. A oposição ao governo Lula vê na investigação uma oportunidade de mostrar que o bolsonarismo ultrapassou os limites do jogo democrático. Já os defensores de Bolsonaro alegam que tudo não passa de uma manobra para impedi-lo de disputar futuras eleições.
A estratégia de recorrer à própria imprensa para sustentar sua defesa pública tem sido eficaz entre seus seguidores. Isso porque, ao citar veículos antes tidos como críticos, o ex-presidente tenta mostrar que até os que não lhe são simpáticos já reconheceram, em algum momento, pontos frágeis da acusação.
Bolsonaro questiona imparcialidade das instituições
Outro ponto levantado por Bolsonaro em sua publicação é a parcialidade das instituições envolvidas na investigação. Ele questiona a atuação do STF e da Polícia Federal, sugerindo que há motivação política por trás das ações e decisões.
“Estamos vivendo um tempo em que discordar virou crime, em que criticar virou ataque e em que o exercício do direito de opinião está sendo sufocado por interesses escusos”, afirmou o ex-presidente.
A declaração reforça a retórica que ele vem adotando desde o fim de seu mandato, quando passou a denunciar supostos abusos e perseguições por parte do Judiciário.
O que esperar do depoimento?
O depoimento desta segunda-feira será determinante para os rumos da investigação. Espera-se que Bolsonaro reforce a versão apresentada publicamente e se recuse a responder perguntas que considere capciosas ou direcionadas. Há ainda a possibilidade de que seus advogados optem por estratégias jurídicas como o uso do direito ao silêncio, dependendo do tom adotado pelos ministros.
No entanto, o simples fato de ele ter aceitado prestar depoimento já demonstra que pretende encarar de frente o processo, ao menos no aspecto político e midiático.
Conclusão: mais um capítulo da tensão institucional
O embate entre Bolsonaro e o STF ganha mais um capítulo com o depoimento marcado para esta semana. O uso estratégico das redes sociais pelo ex-presidente mostra que ele continua apostando na comunicação direta com seus eleitores como forma de se defender e manter viva sua influência política.
A lista publicada neste domingo funciona não apenas como um manifesto de defesa, mas como um ataque à narrativa institucional que o acusa. Resta saber se essa estratégia será suficiente para alterar os rumos da investigação — ou se servirá apenas para aprofundar ainda mais a polarização no país.