Bolsonaro diz que questão com Barroso “é pessoal”; VIDEO

Política

Durante um interrogatório realizado nesta terça-feira, 10, no contexto das investigações sobre um suposto plano de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a chamar atenção ao mencionar sua conturbada relação com o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso. Segundo Bolsonaro, o atrito entre ambos antecede o período em que Barroso passou a integrar a mais alta Corte do país.

Um Histórico de Conflitos: Antes Mesmo do STF

Ao prestar depoimento às autoridades, Bolsonaro destacou que sua relação com Barroso é marcada por desavenças antigas, originadas ainda nos tempos em que Barroso atuava como advogado constitucionalista e professor, e não como integrante do Judiciário. O ex-presidente deu a entender que os atritos entre ambos foram se acumulando ao longo dos anos, criando uma relação pessoalmente conflituosa, que transbordou para o cenário político e institucional.

“Essa questão com o ministro Barroso vem de muito antes de ele assumir qualquer cargo no STF”, disse Bolsonaro durante o depoimento. “A gente já se estranhava lá atrás. Nunca teve ameaça a nenhum poder, mas existe uma questão pessoal entre nós dois, que vem se arrastando ao longo do tempo”, completou.

Temperamento e Autocrítica: Bolsonaro Reconhece Erros

Bolsonaro também aproveitou o momento para falar sobre seu temperamento durante sua longa trajetória política, especialmente nos tempos de deputado federal. O ex-presidente admitiu que sua postura explosiva rendeu diversos processos de cassação — segundo ele, cerca de vinte — durante seu período no Congresso Nacional. Ele reconheceu que, por vezes, ultrapassou os limites.

“O senhor conhece o meu temperamento. Eu sempre fui mais impulsivo, falei o que pensava, e isso gerou problemas. Respondi a diversos processos de cassação enquanto estive na Câmara. Errei, sim, várias vezes. Mas isso fazia parte da forma como eu atuava”, declarou. Bolsonaro, contudo, enfatizou que seu estilo direto nunca significou desrespeito às instituições democráticas ou ameaças a outros poderes da República.

Barroso e a Declaração Pós-UNE: Ponto de Ruptura

Um dos momentos mais marcantes do depoimento foi quando Bolsonaro mencionou uma fala pública atribuída a Barroso após uma reunião da União Nacional dos Estudantes (UNE). De acordo com o ex-presidente, Barroso teria dito: “Derrotamos o bolsonarismo”, numa suposta comemoração política. Essa declaração, segundo Bolsonaro, foi interpretada como um posicionamento ideológico do ministro, incompatível com o papel institucional de um membro do STF.

“Depois de sair de uma reunião da UNE, o ministro Barroso falou em alto e bom som: ‘Derrotamos o bolsonarismo’. Aquilo me marcou. Na minha visão, não condiz com a postura de alguém que deveria agir com imparcialidade”, afirmou. Ele ainda acrescentou que, apesar de já ter tentado deixar esses episódios no passado, sente que Barroso mantém uma postura pessoalmente adversa a ele.

Relação Pessoal ou Conflito Institucional?

Embora Bolsonaro tenha ressaltado que suas divergências com Barroso têm raízes pessoais, o impacto desse relacionamento tumultuado extrapolou a esfera individual e ganhou relevância política e institucional. Ao longo dos últimos anos, o então presidente da República e o ministro do STF protagonizaram diversos embates públicos, especialmente durante o período das eleições de 2022 e nos debates sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Bolsonaro foi um dos principais críticos das urnas eletrônicas e das decisões do Supremo durante seu mandato, e Barroso, à época ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi uma das vozes mais firmes em defesa da legitimidade do processo eleitoral. O confronto entre ambos alimentou o discurso de polarização no país, levando a manifestações populares e disputas jurídicas frequentes.

Tentativa de Golpe e Clima de Tensão

O depoimento de Bolsonaro integra o processo que apura a existência de um plano articulado por aliados do ex-presidente para tentar reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As investigações apontam indícios de que membros do governo anterior cogitaram medidas inconstitucionais para impedir a posse do presidente eleito, o que inclui supostas articulações com setores militares e empresariais.

Nesse contexto, a fala de Bolsonaro sobre Barroso ganha uma nova camada de interpretação. Para investigadores, entender a natureza das relações do ex-presidente com integrantes do Judiciário pode lançar luz sobre possíveis motivações e estratégias por trás dos acontecimentos pós-eleitorais.

Bolsonaro Busca Separar o Pessoal do Institucional

Apesar das críticas, Bolsonaro afirmou durante o interrogatório que não guarda rancores e que, por diversas vezes, optou por ignorar provocações. Segundo ele, seu objetivo nunca foi atacar o STF como instituição, mas sim defender-se de posicionamentos que considerava injustos.

“Não tenho nada contra o Supremo como instituição. Tenho minhas críticas, claro, como qualquer cidadão, mas o que existe é um histórico de conflitos pessoais com o ministro Barroso. Eu relevo muitas coisas. O problema é que parece que ele não me esquece”, disse.

A Percepção Pública e o Futuro Político

As declarações de Bolsonaro durante o interrogatório reacendem debates sobre a tensão entre os Poderes e os limites da atuação política de magistrados. A polarização do país, intensificada nos últimos anos, transformou divergências políticas em embates pessoais, e o confronto entre Bolsonaro e Barroso é um reflexo direto desse fenômeno.

Ainda não se sabe qual será o impacto concreto desse depoimento no andamento das investigações, mas analistas apontam que Bolsonaro tem buscado adotar uma postura mais moderada e colaborativa diante da Justiça, possivelmente visando se preservar politicamente para o futuro.

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