À medida que o inquérito sobre a alegada tentativa de golpe se aproxima de sua reta final no Supremo Tribunal Federal (STF), os advogados de Jair Bolsonaro e do general da reserva Walter Braga Netto intensificam suas ações para minar as bases da investigação. A principal meta das defesas agora é desmontar a credibilidade da delação premiada feita por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, cuja colaboração é considerada peça-chave no inquérito.
O foco da defesa: a delação sob ataque
Mauro Cid, que ocupava um cargo de extrema confiança durante o governo Bolsonaro, passou a colaborar com as autoridades após ser implicado em diversas frentes, desde falsificação de cartões de vacinação até a suposta participação em articulações para reverter o resultado das eleições de 2022.
No entanto, os advogados de Bolsonaro e Braga Netto acreditam ter encontrado um ponto vulnerável: mensagens e declarações atribuídas à família de Mauro Cid, especialmente sua esposa, que indicariam pressão, coação e até ressentimentos pessoais envolvendo a colaboração do ex-ajudante de ordens com a Justiça.
Segundo fontes próximas às defesas, essas manifestações sugeririam que Cid não teria colaborado de maneira totalmente livre e espontânea, o que poderia, se confirmado, comprometer a validade jurídica de sua delação.
Perfil suspeito nas redes sociais levanta questionamentos
Uma peça central da nova estratégia dos advogados de Bolsonaro é um perfil em rede social identificado como @gabrielar702. Segundo a defesa, este seria um canal informal usado por familiares de Mauro Cid — possivelmente sua esposa ou filha — para expressar insatisfações e lançar suspeitas sobre os bastidores da colaboração premiada.
Áudios, publicações e capturas de tela provenientes deste perfil estão sendo organizados e protocolados como parte de uma ofensiva judicial que visa questionar a lisura do processo. A alegação é de que Cid teria cedido à pressão de autoridades para incriminar seus ex-superiores, em troca de benefícios penais.
Os defensores também argumentam que essas manifestações públicas poderiam configurar vício de vontade na colaboração de Cid, um elemento que, se acolhido pelo STF, teria impacto profundo na condução do inquérito.
Braga Netto também entra na ofensiva
O general da reserva Braga Netto, que figura como co-investigado no mesmo processo, segue linha semelhante à de Bolsonaro. Sua defesa sustenta que Mauro Cid teria extrapolado os fatos ao tentar ligar o general a possíveis articulações antidemocráticas.
Com base na mesma linha argumentativa, os advogados de Braga Netto passaram a coletar elementos que apontem para contradições nos depoimentos de Cid e inconsistências na condução da delação. A expectativa é que, ao fragilizar a narrativa sustentada por Cid, se crie espaço para arquivamentos ou reduções de imputações no processo.
Celso Vilardi comanda estratégia jurídica de Bolsonaro
À frente da defesa de Jair Bolsonaro está o advogado criminalista Celso Vilardi, conhecido por sua atuação em casos de grande repercussão nacional. Vilardi tem trabalhado com discrição, mas nos bastidores, sua equipe estaria mobilizada para demonstrar que Mauro Cid agiu sob pressão, e que suas declarações não têm a robustez necessária para sustentar acusações contra o ex-presidente.
Além do monitoramento das redes sociais e da coleta de manifestações da família de Cid, a defesa também estaria preparando questionamentos formais sobre a cadeia de custódia dos depoimentos, o acompanhamento da defesa no processo de colaboração e a atuação de membros do Ministério Público Federal.
Objetivo final: uma reviravolta no STF
O que Bolsonaro e Braga Netto realmente almejam com essa estratégia é uma reviravolta no Supremo. Ao descredibilizar a delação de Mauro Cid — considerada pela Procuradoria-Geral da República como um dos principais pilares da acusação — os réus esperam minar o caso desde a base.
Na melhor das hipóteses para as defesas, o STF poderia rever medidas já tomadas com base na delação ou até mesmo desconsiderá-la como prova válida, o que mudaria drasticamente o curso do inquérito. Em cenários mais moderados, a ofensiva jurídica visa ao menos enfraquecer o peso dos relatos de Cid e ampliar o espaço para argumentações de mérito.
O ambiente político e os reflexos da disputa jurídica
O movimento das defesas ocorre em um momento delicado da política nacional, com a base de apoio a Bolsonaro tentando se reorganizar para as eleições municipais de 2024 e, principalmente, com os olhos voltados para 2026.
A possível desqualificação da delação de Mauro Cid teria efeitos não apenas no campo jurídico, mas também simbólico, ao permitir que o ex-presidente e seus aliados sustentem uma narrativa de perseguição política e manipulação do sistema de justiça.
Braga Netto, que ainda alimenta ambições eleitorais e se mantém próximo do núcleo bolsonarista, também poderia emergir fortalecido caso consiga limpar seu nome das acusações mais graves.
STF ainda avaliará validade das novas provas
O Supremo Tribunal Federal deverá decidir, nas próximas semanas, se acolhe os novos elementos apresentados pelas defesas. A expectativa gira em torno do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que tem conduzido o inquérito com rigor e já impôs uma série de medidas cautelares aos envolvidos.
Especialistas apontam que, para que a estratégia das defesas tenha êxito, será necessário provar não apenas que Mauro Cid foi pressionado, mas também que suas declarações contêm erros factuais relevantes ou foram influenciadas por interesses externos.
Caso contrário, os argumentos poderão ser interpretados como manobras protelatórias típicas de réus em posição desfavorável.
Conclusão: um tabuleiro em movimento
A disputa jurídica que se desenrola no STF é apenas uma das frentes da batalha que envolve Bolsonaro, Braga Netto, e agora, Mauro Cid. O que está em jogo vai muito além de condenações ou absolvições — trata-se do futuro político de uma ala relevante da direita brasileira.
Com novas peças sendo movimentadas, a tentativa de reverter os efeitos da delação de Cid mostra que o caso está longe de terminar. E o próximo lance, mais uma vez, estará nas mãos do Supremo Tribunal Federal.