Carla Zambelli deixa o Brasil: ‘Cansei de ficar calada’

Política

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou nesta terça-feira, 3, que está fora do Brasil. Segundo ela, a decisão de viajar para a Europa foi motivada por questões de saúde. A parlamentar também afirmou que irá solicitar uma licença não remunerada de suas atividades na Câmara dos Deputados.

Zambelli declarou que a decisão de se ausentar temporariamente do país não representa um abandono da política ou de suas bandeiras. Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, ela tentou tranquilizar seus apoiadores: “Não é desistir da minha luta. É resistir, é poder continuar falando o que eu quero falar, é voltar a ser a Carla que eu era.”

Além disso, a deputada explicou que tem cidadania europeia, o que facilitou sua viagem. Mesmo assim, fez questão de frisar que continua comprometida com o que defende no Brasil e que o afastamento é momentâneo.

Pressão jurídica e desgaste emocional

Durante seu pronunciamento, Carla Zambelli também falou sobre a pressão jurídica que tem enfrentado nos últimos tempos. Segundo ela, o ambiente no Brasil se tornou insustentável e tem afetado profundamente sua saúde emocional. “Cansei de ficar calada”, desabafou a parlamentar, em tom de indignação.

A deputada não entrou em detalhes sobre seu estado clínico, mas deu a entender que o acúmulo de processos e investigações teria contribuído para seu desgaste mental e físico. A saída para a Europa seria, portanto, uma tentativa de buscar equilíbrio pessoal em meio à turbulência política e jurídica em que está envolvida.

Zambelli afirmou que essa pausa é essencial para reorganizar suas ideias, cuidar da saúde e voltar com mais força. “Eu preciso de tempo para mim. Estou vivendo um momento delicado e quero poder me reconectar com o que sou de verdade, longe da pressão constante que tenho vivido.”

Condenação no STF

A decisão da deputada de deixar o país acontece pouco tempo depois de uma condenação significativa imposta pela Justiça. No dia 14 de maio, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, condená-la a 10 anos de prisão. A sentença está relacionada à invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2023.

Na ocasião, os ministros do STF entenderam que houve violação grave à segurança institucional e consideraram que Zambelli agiu com dolo, ou seja, de forma intencional. A ação foi considerada como uma tentativa de descredibilizar o Judiciário e comprometer a integridade de dados sensíveis.

Ainda cabe recurso contra essa condenação, o que mantém a deputada em liberdade. No entanto, a decisão do Supremo representa um marco importante no contexto jurídico que envolve a parlamentar, agravando a tensão ao seu redor.

Reações políticas e críticas

O anúncio da deputada gerou reações imediatas nos bastidores da política. Enquanto seus apoiadores mais próximos demonstraram solidariedade, parte da oposição criticou a atitude, sugerindo que a parlamentar estaria tentando fugir de suas responsabilidades legais.

Alguns parlamentares chegaram a questionar se a viagem seria uma forma de evitar uma possível prisão ou outras medidas judiciais mais severas, caso os recursos na Justiça não prosperem. Apesar de Zambelli ter reforçado que sua saída foi planejada com base em motivos pessoais e legais, o momento em que ela ocorre gerou desconfiança entre adversários políticos.

Lideranças partidárias do PL preferiram não comentar o caso publicamente, mas, nos bastidores, o sentimento é de apreensão quanto aos impactos que essa situação pode ter na imagem do partido, principalmente em um ano pré-eleitoral.

Estratégia de imagem e reconexão com a base

Desde o início de sua trajetória política, Carla Zambelli construiu uma imagem de combatente das pautas conservadoras e alinhada ao bolsonarismo. Sua atuação sempre foi marcada por declarações firmes, vídeos nas redes sociais e confrontos com figuras do campo progressista.

Nos últimos meses, no entanto, ela vinha adotando um tom um pouco mais contido, especialmente após os processos na Justiça se intensificarem. Agora, com o afastamento, Zambelli parece apostar numa estratégia de reconstrução pessoal e política, tentando preservar sua base eleitoral e o capital simbólico que acumulou ao longo dos últimos anos.

Ela sinalizou que continuará se comunicando com seus seguidores pelas redes sociais e que pretende retomar suas atividades públicas após esse período fora. “Eu não estou me escondendo. Estou me cuidando. Quero continuar representando vocês, mas preciso estar bem para isso”, disse.

O futuro político de Zambelli

Apesar das dificuldades atuais, Zambelli ainda conta com uma base fiel de apoiadores e mantém influência em setores do conservadorismo brasileiro. Seu afastamento momentâneo, no entanto, levanta dúvidas sobre sua capacidade de disputar futuras eleições ou até mesmo de manter seu mandato, caso a condenação seja confirmada em última instância.

Analistas políticos avaliam que, embora o afastamento possa ser visto como um sinal de fragilidade, também pode ser interpretado como uma jogada estratégica para evitar um desgaste maior no momento e reorganizar sua atuação em um novo cenário.

A depender dos desdobramentos judiciais e da forma como Zambelli conduzirá sua comunicação nos próximos meses, ela poderá tentar retornar com força à cena política. Para isso, porém, será preciso enfrentar não apenas os processos em curso, mas também a narrativa de seus adversários, que já exploram o episódio como sinal de fuga ou fraqueza.

Considerações finais

A ida de Carla Zambelli à Europa, sob a justificativa de cuidar da saúde e escapar da pressão jurídica, marca mais um capítulo polêmico em sua trajetória política. Ao mesmo tempo em que reafirma seu compromisso com as bandeiras que defende, a parlamentar enfrenta desafios jurídicos sérios que podem comprometer seu futuro no Congresso.

Enquanto aguarda o desfecho dos recursos no STF, Zambelli tenta manter viva sua imagem junto ao eleitorado conservador e, ao mesmo tempo, cuidar de si mesma em meio ao turbilhão. Resta saber se sua ausência será breve e estratégica ou o início de um distanciamento mais longo da vida pública.

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