Cid diz que Moraes foi chamado de “desgraçado” em reunião

Política

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou a ser figura central nas investigações envolvendo os bastidores do governo e os eventos que antecederam o 8 de janeiro. Durante um depoimento recente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cid trouxe à tona detalhes sobre um encontro entre militares em que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi citado de forma crítica.

Segundo o militar, a reunião aconteceu em novembro de 2022 e teve um tom bastante informal, semelhante a uma conversa entre amigos em um bar, com piadas, memes e até xingamentos — mas sem planos concretos ou objetivos golpistas.

Críticas informais e memes: o teor da reunião

Durante o depoimento, o advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, questionou Cid sobre o conteúdo da reunião realizada em 28 de novembro de 2022, especialmente se o nome de Moraes foi mencionado. O militar confirmou e, se dirigindo diretamente ao ministro Alexandre de Moraes — que também atuava como relator da ação — afirmou: “O senhor foi muito criticado”.

Moraes, adotando um tom bem-humorado, respondeu: “Só? O senhor tem que falar a verdade. Eu tô acostumado, pode falar”. Essa troca de falas evidenciou o ambiente descontraído da sessão e o fato de que a reunião, segundo Cid, não passou de um desabafo coletivo.

“Cara desgraçado” e outras expressões usadas

Cid detalhou que as manifestações contra Moraes não configuraram ameaças ou planos concretos de ação. Ao invés disso, a reunião envolveu xingamentos, como o termo “cara desgraçado”, e o compartilhamento de figurinhas e memes que circulavam nas redes sociais.

– Não havia termos como “vamos acabar com ele”. Isso nunca existiu. “Vamos planejar alguma coisa”. Isso nunca existiu – declarou o militar.

Ele também enfatizou que o que foi dito no encontro refletia o que já se via nas redes entre os apoiadores do ex-presidente, mas em um tom descontraído e irônico.

PGR investiga possíveis intenções golpistas

Apesar do tom informal relatado por Mauro Cid, a Procuradoria-Geral da República (PGR) segue investigando se o encontro teria como pano de fundo uma tentativa de convencer os chefes das Forças Armadas a apoiarem um possível golpe de Estado.

A suspeita ganha mais relevância diante dos diversos indícios levantados pela PGR e outros órgãos, que apontam para movimentações nos bastidores do governo após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022. Embora Cid negue que haja qualquer plano golpista, a PGR mantém a apuração sob sigilo, avaliando o contexto e os participantes dessas reuniões.

Minuta do golpe: um documento ainda nebuloso

Durante o mesmo depoimento, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, também questionou Cid sobre a chamada “minuta do golpe”, um suposto documento que teria circulado entre aliados do ex-presidente. A minuta, segundo investigações, sugeriria medidas para anular o resultado das eleições e instaurar um governo de exceção.

Cid confirmou que teve acesso à imagem da minuta por mensagem, mas disse desconhecer sua origem. Ele negou qualquer participação na elaboração ou distribuição do documento.

Essa declaração ocorre em um momento em que várias figuras próximas a Bolsonaro têm sido confrontadas com questionamentos semelhantes. O próprio ex-presidente já afirmou publicamente que nunca assinou tal minuta e que “golpe nunca existiu”.

Contexto político e clima de tensão institucional

O depoimento de Mauro Cid acontece em meio a um ambiente político ainda sensível no Brasil, com o Judiciário reforçando o cerco a manifestações antidemocráticas e investigando tentativas de abalar o processo eleitoral.

O fato de o ministro Alexandre de Moraes ter sido diretamente criticado em uma reunião entre militares reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão entre membros das Forças Armadas e o papel que elas devem (ou não) desempenhar na política nacional.

Embora Cid tenha enfatizado o tom descontraído da reunião, a simples existência de encontros com esse teor e com participantes ligados ao alto comando militar levanta preocupações sobre a estabilidade democrática e o respeito às instituições.

A repercussão do depoimento

A fala de Mauro Cid repercutiu amplamente nas redes sociais e na imprensa, reacendendo discussões sobre o papel das Forças Armadas no período pós-eleitoral de 2022. Setores mais alinhados ao ex-presidente Bolsonaro minimizaram as declarações de Cid, reforçando que não houve qualquer crime ou conspiração.

Por outro lado, juristas, analistas políticos e representantes de entidades democráticas alertam para os riscos de encontros como esse, ainda que tenham sido “conversas de bar”. A informalidade, segundo eles, não elimina a gravidade do conteúdo quando se trata de figuras públicas e militares com influência política.

O que pode acontecer a partir de agora

As investigações da PGR devem continuar a apurar o que realmente aconteceu nos bastidores do governo após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. O foco não está apenas na chamada minuta do golpe, mas também nas articulações informais entre militares e políticos que podem ter buscado deslegitimar o resultado das eleições.

Mauro Cid, por sua vez, continua sendo uma das peças-chave nessas apurações. Seus depoimentos já foram utilizados em outras investigações, incluindo as que envolvem a tentativa de desacreditar o sistema eleitoral e o ataque às instituições democráticas.

A depender dos desdobramentos, novas oitivas podem ser convocadas e eventuais responsabilizações podem surgir, especialmente se forem encontrados elementos que conectem as reuniões informais a planos concretos de ruptura institucional.

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