A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), comentou nesta quarta-feira (11) o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça (10). Em conversa com jornalistas, a parlamentar classificou as declarações de Bolsonaro como “evasivas” e, em certos momentos, “mentirosas”. As críticas se somam ao crescente embate político que envolve as investigações sobre os atos antidemocráticos que sacudiram o país nos últimos anos.
Interrogatório no STF e suspeitas de golpe
O ex-presidente foi convocado para prestar esclarecimentos no âmbito da investigação que apura um suposto plano de golpe de Estado. O inquérito, conduzido pelo STF, envolve diversos militares e ex-integrantes do governo, apontados como peças-chave na tentativa de subverter a ordem democrática brasileira.
Gleisi destacou que Bolsonaro não respondeu com clareza sobre os principais pontos da acusação, especialmente em relação à chamada “minuta do golpe” – um documento que teria sido preparado para justificar uma intervenção institucional no país. Segundo as autoridades, o plano envolvia a suspensão dos poderes constitucionais e poderia até ter contemplado ações violentas.
A menção ao grupo “Punhal Verde e Amarelo”
Durante a coletiva, a ministra também mencionou um grupo intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, o qual teria supostamente participado das articulações golpistas. Segundo ela, esse grupo estaria associado não apenas à elaboração de documentos antidemocráticos, mas também a planos extremos, incluindo ameaças à integridade física de figuras importantes do Judiciário e do Executivo.
– Ele não foi claro ao explicar seu envolvimento com esse grupo. Não negou de forma convincente a existência de articulações, e tampouco conseguiu se desvincular das ações mais radicais atribuídas ao núcleo mais extremado dos seus apoiadores – afirmou Gleisi.
Entre os alvos dessas ameaças estariam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Alexandre de Moraes, ambos protagonistas de decisões que desarticularam redes bolsonaristas em anos anteriores.
A gravidade do contexto, segundo Gleisi
Para Gleisi, o teor das investigações vai além de disputas políticas. Ela aponta que o episódio deve ser tratado com seriedade, uma vez que envolve uma tentativa de ruptura do estado democrático de direito.
– O que ocorreu foi grave. Não estamos falando apenas de um debate acalorado ou de manifestações públicas. Estamos diante de um plano com elementos estruturados, que envolvia lideranças militares, agentes do governo e estratégias para suprimir o regime democrático – declarou.
A ministra também ressaltou a importância da responsabilização dos envolvidos. Segundo ela, permitir que tais ações passem impunes seria abrir precedente perigoso para a democracia brasileira.
Evasivas, contradições e silêncio seletivo
Fontes ligadas ao Supremo indicaram que o comportamento de Bolsonaro durante o depoimento foi caracterizado por respostas genéricas, tentativas de esquiva e até mesmo apelos ao direito de permanecer em silêncio em questões mais delicadas. Em alguns momentos, o ex-presidente teria optado por não comentar alegações específicas sobre reuniões com militares e aliados próximos nas semanas que antecederam os atos de 8 de janeiro de 2023.
Gleisi reiterou que, embora o direito ao silêncio seja legítimo no campo jurídico, a ausência de explicações por parte de alguém que ocupou o cargo mais alto da República causa estranheza e indignação à sociedade.
– Um ex-presidente deve satisfações à população. O mínimo que se espera é que esclareça fatos graves e não se esconda atrás de subterfúgios legais – disse.
Reação do campo bolsonarista
Por outro lado, aliados de Bolsonaro classificaram as declarações de Gleisi como um “ataque político” e acusaram o governo atual de usar o aparato judicial para perseguir opositores. Deputados da base bolsonarista afirmaram que as investigações são “parciais” e que há um “clima de caça às bruxas” contra o ex-presidente e seus apoiadores.
Ainda assim, os desdobramentos da investigação seguem em curso, com previsão de novos depoimentos nos próximos dias. O STF pretende ouvir outros nomes citados nos documentos apreendidos, que podem lançar luz sobre o grau de envolvimento de Bolsonaro nos supostos planos.
Democracia sob tensão
A tensão entre os Poderes tem sido uma constante desde a eleição de 2018. Embora o sistema democrático tenha resistido a ataques e tentativas de deslegitimação, episódios como o do 8 de janeiro e as revelações sobre planos paralelos de poder reforçam o clima de instabilidade institucional.
Gleisi Hoffmann aproveitou a ocasião para reiterar o compromisso do governo Lula com a estabilidade democrática e alertou para a necessidade de proteger o sistema das investidas autoritárias.
– A democracia brasileira é forte, mas não pode ser tratada com descuido. Se não houver consequências para aqueles que tentam destruí-la, estaremos incentivando futuras tentativas – pontuou.
Próximos passos do inquérito
O STF deve continuar com a coleta de depoimentos ao longo do mês, reunindo provas que possam embasar eventuais ações penais contra os envolvidos. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, sinalizou que está atento a cada movimentação dos investigados, e os próximos dias serão decisivos para entender o rumo que o inquérito tomará.
O clima político, por sua vez, permanece polarizado. De um lado, setores que pedem punições severas para os supostos golpistas. De outro, uma base política que continua defendendo o ex-presidente como vítima de perseguição.
O Brasil segue, mais uma vez, diante de um momento crucial de sua história recente. As instituições serão colocadas à prova, e o resultado poderá definir os limites do que é aceitável em nome da política e da disputa pelo poder.