O ex-presidente Jair Bolsonaro compareceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 10, para prestar esclarecimentos a respeito de sua ausência na cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em 1º de janeiro de 2023. O depoimento faz parte de uma investigação que apura a conduta de Bolsonaro no período de transição de governo e os desdobramentos relacionados ao seu comportamento institucional.
Motivações políticas e pessoais
Durante o depoimento, Bolsonaro afirmou que sua decisão de não participar do evento de transmissão da faixa presidencial não teve como base qualquer intenção de ruptura institucional, mas sim motivações de cunho pessoal e político. Segundo ele, a recusa em comparecer à cerimônia foi uma escolha consciente, alinhada com suas convicções ideológicas e com a insatisfação em relação ao resultado das eleições de 2022.
“Não fui à posse porque não iria me submeter a passar a faixa para esse atual mandatário. Não ia me prestar ao papel de ser vaiado perante o Brasil inteiro. Não queria ser protagonista da maior vaia da história do país”, declarou Bolsonaro, demonstrando ressentimento com o cenário político que se formou após sua derrota nas urnas.
Viagem aos Estados Unidos antes da posse
Ainda antes da posse de Lula, em 30 de dezembro de 2022, Bolsonaro deixou o Brasil em um voo com destino aos Estados Unidos. A viagem, realizada dois dias antes da cerimônia oficial, foi interpretada por muitos como uma tentativa de evitar o constrangimento de participar do ritual republicano de passagem de poder.
O ex-presidente permaneceu em solo norte-americano por várias semanas, hospedando-se na Flórida. Durante esse período, ele limitou suas aparições públicas e evitou se pronunciar sobre o novo governo brasileiro. A permanência prolongada fora do país alimentou especulações sobre seus planos políticos e possíveis estratégias para manter sua base de apoio ativa mesmo após deixar o cargo.
Críticas ao novo governo e à cerimônia de posse
Ao justificar sua ausência, Bolsonaro também teceu críticas diretas ao governo de Lula e ao simbolismo da cerimônia de posse. Segundo ele, participar do ato representaria uma espécie de endosso àquilo que chama de “retrocesso político”. O ex-presidente reafirmou seu posicionamento crítico à esquerda e disse não reconhecer legitimidade no projeto político do novo governo.
Além disso, Bolsonaro argumentou que sua presença poderia ter sido interpretada como um gesto de aceitação ou apoio, o que estaria em contradição com sua visão de país e com os compromissos assumidos junto ao seu eleitorado. “Minha ida à posse seria incoerente com tudo o que defendi. Não faria sentido estar lá apenas para cumprir um ritual vazio, sem representatividade verdadeira para mim”, afirmou.
Repercussão do depoimento no meio político
O depoimento de Bolsonaro ao STF gerou ampla repercussão nos meios político e jurídico. Parlamentares da oposição criticaram a postura do ex-presidente, acusando-o de ter negligenciado um dever institucional ao se ausentar da cerimônia. Para esses críticos, o ato de passar a faixa presidencial é mais do que um protocolo: trata-se de um símbolo da estabilidade democrática e da continuidade do Estado.
Por outro lado, aliados de Bolsonaro defendem que sua decisão de não comparecer foi legítima, e que o gesto não pode ser interpretado como quebra da ordem democrática. Para eles, o ex-presidente exerceu seu direito de se abster de um evento que, em sua visão, contrariava seus princípios e valores.
Investigações em andamento
A oitiva de Bolsonaro integra um inquérito mais amplo conduzido pelo STF, que investiga se houve articulação de autoridades para contestar o resultado das eleições de 2022 e enfraquecer a transição de poder. Os investigadores buscam compreender se a ausência do ex-presidente foi apenas um gesto simbólico ou parte de uma estratégia coordenada que poderia ter ameaçado o processo democrático.
Embora até o momento não haja acusação formal contra Bolsonaro relacionada a esse episódio específico, o depoimento será avaliado em conjunto com outras evidências e declarações colhidas ao longo das investigações. A Procuradoria-Geral da República (PGR) acompanha o caso e poderá apresentar parecer sobre eventuais responsabilizações.
Imagem internacional e repercussão da viagem
A ausência de Bolsonaro na posse presidencial e sua permanência nos Estados Unidos também tiveram repercussões no cenário internacional. A atitude foi amplamente noticiada por veículos de imprensa estrangeiros, que destacaram a singularidade do gesto. Em muitos países, é tradição que o presidente em exercício participe da cerimônia de transição como demonstração de respeito às instituições e ao processo eleitoral.
A escolha de Bolsonaro em não comparecer foi interpretada, em alguns círculos diplomáticos, como sinal de resistência política e de não aceitação do resultado das urnas. Essa percepção gerou desconforto entre líderes internacionais e foi vista como um elemento de tensão institucional no Brasil.
Expectativas futuras
O depoimento de Jair Bolsonaro ao STF marca mais um capítulo na relação complexa entre o ex-presidente e as instituições democráticas brasileiras. Apesar de já não ocupar cargo público, Bolsonaro continua sendo uma figura central no debate político nacional, com influência significativa sobre parcelas do eleitorado conservador.
A expectativa agora gira em torno dos desdobramentos das investigações e das implicações que o depoimento pode ter para o futuro político do ex-mandatário. A depender do entendimento do Supremo e das autoridades investigativas, a conduta de Bolsonaro poderá impactar sua elegibilidade ou mesmo resultar em novas ações judiciais.