Durante anos, boa parte da chamada velha mídia adotou um tom pejorativo ao se referir ao jornalista Allan dos Santos. Termos como “blogueiro” eram frequentemente utilizados para desqualificar sua atuação profissional, mesmo que sua produção de conteúdo, seu alcance e influência política superassem a de muitos nomes consagrados da grande imprensa. Porém, algo curioso está acontecendo: veículos que antes o tratavam com desdém começam, aos poucos, a chamá-lo por sua verdadeira função — jornalista.
Essa mudança repentina de postura não é coincidência. Ela vem na esteira de um cenário político e jurídico cada vez mais pressionado por legislações internacionais. Entre elas, ganha destaque a Lei Magnitsky.
A Rotulagem de “Blogueiro” como Estratégia de Deslegitimação
Allan dos Santos, conhecido por fundar o canal Terça Livre, sempre foi uma figura polêmica, principalmente por seu posicionamento conservador e críticas incisivas a setores da imprensa tradicional e do judiciário brasileiro. Desde sua ascensão como comunicador independente, passou a ser alvo constante de matérias que o retratavam como “blogueiro”, “agitador digital” ou até mesmo “militante extremista”.
Essas nomenclaturas, embora possam parecer inofensivas à primeira vista, possuem um efeito direto na opinião pública: deslegitimar sua atividade jornalística e pintar sua imagem como a de um amador da comunicação, alguém sem respaldo ou credibilidade.
No entanto, o fato é que Allan exerceu por anos as funções básicas do jornalismo: apuração de fatos, entrevistas, análises políticas e denúncias — tudo com uma audiência fiel e engajada. Seu conteúdo, concorde-se com ele ou não, mobilizou debates nacionais e trouxe à tona temas que incomodavam setores poderosos.
O Papel da Lei Magnitsky no Novo Contexto
Para compreender a guinada na forma como a imprensa trata Allan dos Santos, é preciso entender o impacto da Lei Magnitsky. Essa legislação, criada inicialmente nos Estados Unidos, tem o objetivo de punir agentes de Estado envolvidos em violações de direitos humanos e corrupção sistemática. Ela permite sanções, congelamento de bens e restrições de visto a indivíduos considerados envolvidos em perseguições políticas, abusos de poder ou censura.
Nos últimos anos, a lei passou a ser adotada por outros países e ganhou força como um instrumento de pressão internacional contra governos e autoridades acusadas de perseguição política. E, mais recentemente, o nome de Allan dos Santos passou a ser citado em petições e relatórios de entidades que pedem sua inclusão como vítima de perseguição política no Brasil.
A Pressão Internacional e a Reação da Imprensa
Com a crescente atenção internacional sobre os casos de jornalistas e comunicadores perseguidos na América Latina, a situação de Allan ganhou novo fôlego. Sua condição de exilado político — atualmente nos Estados Unidos — e os processos enfrentados no Brasil começam a ser vistos sob uma nova ótica.
Há indícios de que veículos da grande imprensa brasileira estejam começando a ajustar sua linguagem não apenas por convicção, mas por precaução. O uso insistente do termo “blogueiro”, que poderia ser interpretado como parte de uma campanha de difamação, agora dá lugar à designação correta: jornalista.
Esse cuidado linguístico surge num momento em que organizações internacionais de direitos humanos e liberdade de imprensa avaliam com mais atenção as denúncias de censura e perseguição política no Brasil. Assim, a velha mídia, talvez temendo repercussões jurídicas ou diplomáticas, começa a moderar seu tom.
Reconhecimento Tardio ou Estratégia de Autopreservação?
É válido questionar: essa mudança é um reconhecimento tardio do papel de Allan dos Santos como jornalista? Ou seria apenas uma estratégia de autopreservação diante de um cenário internacional mais atento e menos tolerante com abusos?
Seja qual for a resposta, o fato é que o discurso começa a mudar. Ainda que discretamente, algumas reportagens já substituem o antigo “blogueiro” por “jornalista investigativo”, “comunicador conservador” ou até mesmo “jornalista exilado”. Pequenas mudanças semânticas que, para o leitor atento, revelam muito mais do que simples escolhas editoriais.
A Importância da Liberdade de Imprensa — Para Todos
Independentemente da posição política, a liberdade de imprensa deve ser defendida para todos. O caso de Allan dos Santos é um exemplo claro de como a imprensa pode tanto exercer seu papel legítimo de crítica quanto escorregar para o viés ideológico, comprometendo sua imparcialidade.
O uso pejorativo de termos como “blogueiro” não se limita apenas a Allan. Outros comunicadores independentes, seja de direita ou de esquerda, também enfrentam tentativas de descredibilização. Isso demonstra a urgência de se discutir o papel da mídia e a responsabilidade na forma como constrói narrativas.
O Futuro da Comunicação Independente no Brasil
Com o avanço das legislações internacionais e a crescente vigilância sobre violações de liberdade de expressão, abre-se uma nova fase para a comunicação no Brasil. Comunicadores independentes, antes ignorados ou hostilizados, começam a ser reconhecidos pelo impacto e relevância de seu trabalho.
Se a velha mídia quer manter sua credibilidade, precisará se adaptar a essa nova realidade. Não é mais possível ignorar que jornalistas podem estar fora das grandes redações, com câmera na mão e audiência no celular. Allan dos Santos é apenas um símbolo dessa transformação — amado por uns, odiado por outros, mas inegavelmente parte da história recente do jornalismo brasileiro.