MC Poze do Rodo é preso por “ligação sólida” com o Comando Vermelho

Justiça

Na manhã desta quarta-feira (29), o cantor de funk conhecido como MC Poze do Rodo, cujo nome verdadeiro é Marlon Brendon Coelho Couto, foi preso preventivamente por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil do Rio de Janeiro. A prisão ocorreu após meses de investigação que apontam uma suposta ligação direta do artista com integrantes da alta cúpula do Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do estado.

Segundo a polícia, Poze teria estreita relação com líderes do grupo e vinha participando com frequência de festas promovidas dentro de comunidades sob domínio da facção. As apurações indicam que sua presença nesses eventos não era apenas artística, mas também estratégica para os interesses da organização criminosa.

Participação em festas nas comunidades dominadas

De acordo com os investigadores, o cantor era presença confirmada em eventos realizados em áreas como o Complexo do Alemão e a Cidade de Deus, duas regiões historicamente marcadas por conflitos entre facções e operações policiais. Nessas festas, MC Poze se apresentava para grandes públicos, em meio a uma atmosfera marcada pela exibição de armamentos pesados, como fuzis, e demonstrações explícitas de poder por parte dos criminosos locais.

Os policiais afirmam que essas apresentações ocorriam com o aval — e financiamento — da facção, com o objetivo de reforçar o controle territorial e conquistar simpatia entre os moradores. A figura do funkeiro, muito popular entre os jovens das periferias, teria sido usada como ferramenta de influência social e cultural.

Investigações revelam esquema de lavagem de dinheiro

A prisão preventiva foi decretada com base em provas colhidas ao longo de meses de investigação. A Polícia Civil encontrou indícios de que os shows de MC Poze serviam não apenas como forma de entretenimento, mas também como parte de um esquema de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

“Esses eventos financiados pela facção eram uma maneira de injetar dinheiro ilícito no circuito do entretenimento e criar uma fachada de legalidade”, revelou um dos policiais envolvidos no caso. Segundo ele, os valores pagos ao cantor e à sua equipe vinham diretamente do lucro das atividades ilegais comandadas pelo CV, o que configuraria crime de lavagem de capitais.

A conexão entre funk e facções

A relação entre o funk e organizações criminosas não é novidade no Rio de Janeiro. Ao longo dos últimos anos, diversos relatos e investigações já apontaram o uso de bailes funk por traficantes para promover sua imagem, consolidar poder nas favelas e até transmitir mensagens à população.

No caso de MC Poze, a DRE afirma que sua participação nesses eventos ia além de simples apresentações. Imagens e vídeos obtidos pela polícia mostram o artista cercado por homens armados, exibindo símbolos da facção e fazendo discursos que, segundo os investigadores, reforçavam o poderio do Comando Vermelho.

Shows como propaganda da facção

Para a Polícia Civil, os shows de Poze nas comunidades funcionavam como ferramentas de propaganda. Os eventos não apenas entretinham a população, mas também serviam para promover o domínio da facção sobre o território, dando a impressão de uma “proteção” ao povo por parte do crime organizado.

Um investigador, que preferiu não se identificar, afirmou que “o funkeiro atuava como uma peça importante dentro da estratégia da facção, ajudando a legitimar sua influência e a se aproximar da juventude”. Ele ainda destacou que a popularidade do cantor era usada como ponte para alcançar novos simpatizantes e blindar o CV contra ações policiais, dificultando a atuação do Estado dentro dessas áreas.

Imagens comprometedoras e convivência com criminosos

O material reunido pelos agentes da DRE inclui vídeos gravados durante os eventos, onde MC Poze aparece em festas regadas a ostentação e presença de armamentos de guerra. A polícia diz que os registros deixam claro que o cantor não apenas se apresentava nos eventos, mas mantinha convivência direta com líderes da organização criminosa.

Ainda segundo os investigadores, essa relação não seria recente. Poze já vinha sendo monitorado há algum tempo, e o acúmulo de evidências permitiu que a Justiça decretasse sua prisão preventiva como forma de impedir que ele continuasse atuando em nome da facção.

O impacto no cenário musical

A prisão de MC Poze causou forte repercussão nas redes sociais e no meio artístico. Ícone do chamado “funk consciente” e com milhões de seguidores, Poze era conhecido tanto por sua musicalidade quanto por suas polêmicas. Agora, sua imagem enfrenta um duro golpe, e seu futuro profissional pode estar em risco.

Especialistas do meio jurídico comentam que, caso as acusações sejam confirmadas, o cantor poderá enfrentar longas penas de prisão por associação ao tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Já do ponto de vista cultural, o caso reacende o debate sobre a relação entre arte, periferia e crime organizado.

Estratégia recorrente do tráfico

A contratação de artistas populares por parte de facções não é uma prática nova. Organizações criminosas utilizam o prestígio de nomes do funk para atrair o público e fortalecer seus domínios. Segundo a DRE, trata-se de uma estratégia calculada que mistura cultura, influência digital e poder territorial.

MC Poze, com sua forte presença nas redes e nas ruas, teria sido um dos principais alvos dessa estratégia. Sua popularidade foi vista como uma oportunidade para amplificar a imagem da facção, especialmente entre o público jovem.

Próximos passos da investigação

A prisão preventiva do funkeiro não encerra o caso. A Polícia Civil afirma que novas diligências serão feitas para aprofundar as conexões entre o artista e membros da facção. Outros nomes do meio artístico também podem ser investigados, dependendo do avanço das apurações.

Enquanto isso, MC Poze permanece detido e deve ser ouvido nos próximos dias. Sua defesa ainda não se pronunciou oficialmente sobre as acusações.

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