A recente saída da deputada federal Carla Zambelli do Brasil rumo à Itália tem repercutido fortemente no cenário político nacional. Condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão, a parlamentar deixou o país pouco antes de sua pena se tornar definitiva, acendendo um sinal de alerta entre analistas e membros do Judiciário. Diante dessa situação, o colunista Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, publicou um artigo sugerindo que o STF deve considerar a possibilidade de decretar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para evitar que ele também deixe o país.
Colunista vê fuga como lição ao STF
No texto intitulado “Fuga de Carla Zambelli é alerta ao STF às vésperas de julgamento de Bolsonaro”, Bernardo Mello Franco afirma que a decisão da deputada de se ausentar do território nacional deve ser interpretada como uma advertência à Suprema Corte, principalmente porque ocorre em um momento decisivo: a proximidade do julgamento de Bolsonaro por suposta tentativa de golpe. Segundo o jornalista, o comportamento de Zambelli mostra que figuras influentes do bolsonarismo podem optar por estratégias de evasão quando confrontadas com condenações.
“A fuga de Zambelli deve servir como um alerta para o Supremo”, escreveu o colunista. Ele prossegue dizendo que, assim como a deputada, o ex-presidente já sinalizou possibilidades de se refugiar no exterior e, por isso, o STF precisa agir com rapidez e firmeza.
Supostas intenções de “autoexílio”
Mello Franco ainda relembra que Bolsonaro passou um período na Hungria após o fim de seu mandato, o que muitos interpretaram como uma tentativa de se manter distante das investigações no Brasil. Segundo ele, há indícios de que o ex-chefe do Executivo esteja considerando repetir esse movimento, especialmente com a crescente pressão judicial que enfrenta atualmente.
O colunista também expressa dúvidas sobre a eficácia de medidas como a retenção do passaporte de Bolsonaro. “Resta saber se a apreensão do documento será suficiente para impedi-lo”, afirmou, sugerindo que apenas essa ação pode não garantir que o ex-presidente permaneça no Brasil até que todos os seus processos sejam julgados.
STF sob pressão crescente
A sugestão de Mello Franco gerou reações diversas nas redes sociais e no meio político. De um lado, há quem veja sua proposta como uma medida preventiva necessária diante de possíveis manobras de fuga. Por outro, aliados de Bolsonaro acusam o jornalista de promover uma perseguição política e jurídica.
Dentro do STF, o clima é de atenção. Embora os ministros não tenham se pronunciado publicamente sobre o artigo, o cenário político delicado e a repercussão do caso Zambelli aumentam a expectativa sobre como a Corte agirá nas próximas semanas. A possibilidade de decretar a prisão preventiva de Bolsonaro, embora controversa, passou a ser debatida entre especialistas jurídicos e figuras públicas.
Deputada Zambelli e sua situação jurídica
Carla Zambelli foi condenada por crimes relacionados à posse ilegal de arma e constrangimento ilegal, após um episódio em que perseguiu um homem pelas ruas de São Paulo com uma pistola em mãos, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022. A decisão do STF impôs a ela uma pena de mais de dez anos de reclusão em regime inicialmente fechado. A parlamentar, no entanto, deixou o Brasil poucos dias após o julgamento e atualmente encontra-se na Itália.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já solicitou a prisão preventiva e a extradição de Zambelli, afirmando que sua ausência compromete a execução da pena. Além disso, o fato de ela ter saído do país sem comunicar formalmente às autoridades brasileiras foi considerado uma tentativa clara de burlar a Justiça.
Parlamentares da esquerda reagem
Parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) e de outras legendas alinhadas ao governo também se manifestaram diante dos acontecimentos. O líder do PT na Câmara, por exemplo, solicitou oficialmente à PGR que intensifique os pedidos de prisão e extradição de Zambelli. A movimentação tem como objetivo evitar que o episódio abra precedentes para que outros políticos condenados sigam o mesmo caminho.
Bolsonaro na mira do Judiciário
Jair Bolsonaro, por sua vez, está no centro de diversas investigações. Uma das mais relevantes envolve a acusação de tentativa de golpe de Estado e articulações ilegais contra o sistema eleitoral. O ex-presidente já prestou depoimentos e foi alvo de medidas cautelares, como a proibição de uso das redes sociais e apreensão de seu passaporte.
A hipótese de prisão preventiva, embora considerada extrema, não é descartada por juristas que acompanham o caso. Segundo eles, se o STF entender que Bolsonaro oferece risco ao processo judicial, sua prisão antes da condenação definitiva pode ser justificada.
Uma nação dividida
As reações à possibilidade de prisão preventiva do ex-presidente refletem a polarização política no Brasil. Enquanto parte da sociedade defende o rigor da lei, mesmo para figuras públicas influentes, outra parte enxerga nessas medidas um viés político e uma forma de censura.
Essa divisão também se manifesta nas redes sociais, onde apoiadores de Bolsonaro classificam a ideia como “ditatorial” e alertam para o que chamam de “criminalização da oposição”. Já críticos do ex-presidente consideram que a Justiça está apenas fazendo seu trabalho ao investigar e responsabilizar qualquer cidadão, independentemente do cargo que ocupou.
Conclusão: tensão e expectativa
O artigo de Bernardo Mello Franco trouxe à tona uma questão sensível: a confiança nas instituições e a capacidade do Judiciário de agir de maneira preventiva diante de ameaças à aplicação da lei. Com a fuga de Carla Zambelli e a proximidade do julgamento de Jair Bolsonaro, o Supremo Tribunal Federal se vê diante de um desafio: agir com firmeza sem ultrapassar os limites constitucionais.
Enquanto isso, a população acompanha com atenção os desdobramentos, aguardando para ver se as instituições manterão a estabilidade diante de mais um capítulo delicado da política nacional.
