Tarcísio diz ao STF que Bolsonaro ‘jamais mencionou’ dar golpe de Estado

Justiça

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prestou depoimento nesta sexta-feira (30) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e declarou que, em nenhum momento, o ex-presidente Jair Bolsonaro articulou ou mencionou qualquer plano golpista após a derrota nas eleições de 2022. Segundo o governador, apesar do abatimento demonstrado por Bolsonaro, nunca houve qualquer conversa que indicasse uma intenção de ruptura institucional.

Visitas a Bolsonaro após o segundo turno

Tarcísio, que foi ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro, afirmou que esteve com o ex-presidente diversas vezes entre novembro e dezembro de 2022, período logo após a eleição que definiu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Durante essas visitas a Brasília, segundo ele, os encontros foram marcados por conversas políticas e reflexões sobre o futuro, mas sem qualquer tom de insubordinação ou intenção de golpe.

“Jamais tive qualquer tipo de conversa com o presidente sobre a prática de um golpe. Nunca, nem mesmo durante o tempo em que estive no ministério”, disse Tarcísio, reforçando que nunca ouviu Bolsonaro propor ou mesmo insinuar qualquer medida fora da Constituição.

Estado emocional de Bolsonaro após a derrota

O governador descreveu Bolsonaro como uma pessoa “triste e resignada” após o resultado das eleições. Apesar da decepção evidente com o desfecho do pleito, Bolsonaro, segundo Tarcísio, não mencionou rompimento institucional ou qualquer plano que visasse barrar a posse do novo governo.

Ainda de acordo com o governador, o então presidente estava preocupado com o rumo que o Brasil poderia tomar sob o comando de Lula, demonstrando apreensão com o futuro político e econômico do país. “Ele lamentava e temia que as coisas saíssem do controle, mas nunca cogitou nenhum ato de força ou ruptura”, explicou.

Bolsonaro e os atos de 8 de Janeiro

Durante o depoimento, Tarcísio também foi questionado sobre possíveis ligações entre Bolsonaro e os atos de vandalismo registrados no dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

O advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, perguntou diretamente ao governador se ele tinha conhecimento de qualquer envolvimento do ex-presidente com os atos. A resposta foi objetiva: “Não, nenhum. O presidente nem sequer estava no Brasil naquele momento.”

Essa afirmação reforça a linha adotada pela defesa do ex-presidente, que sustenta que ele não teve qualquer participação na organização ou estímulo dos ataques.

Relação de proximidade e admiração

Durante o depoimento, Tarcísio deixou claro que mantém uma relação de lealdade e respeito com Bolsonaro. Ele afirmou que, durante seu tempo como ministro, sempre buscava conselhos com o então presidente, valorizando sua experiência política.

“O presidente sempre esteve ao meu lado. Ele me orientava, queria que eu acertasse, que eu fosse bem. Sempre transmitia sua vivência para que eu pudesse tomar boas decisões”, relatou o governador.

Essa admiração, no entanto, não significa submissão política. Tarcísio tem procurado manter uma imagem de gestor técnico, e apesar de ser constantemente cotado como possível sucessor de Bolsonaro na corrida presidencial de 2026, ele tem reiterado que sua intenção é disputar a reeleição para o governo de São Paulo.

Tarcísio e as crises enfrentadas durante o governo

Durante o depoimento, Tarcísio também relembrou alguns dos principais desafios que o governo Bolsonaro enfrentou, destacando a gravidade das situações e o impacto que elas causaram no país. Entre as crises citadas por ele estão o desastre de Brumadinho (MG), a pandemia da Covid-19, a crise hídrica de 2021 e os efeitos econômicos da guerra na Ucrânia.

Segundo ele, mesmo diante dessas adversidades, Bolsonaro manteve sua atuação dentro dos limites institucionais, buscando soluções através dos meios legais e constitucionais.

Depoimento rápido e sem questionamentos adicionais

O depoimento de Tarcísio ao STF durou menos de 10 minutos. Durante esse tempo, apenas o advogado de defesa de Bolsonaro, Celso Vilardi, fez perguntas. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o ministro Alexandre de Moraes, que preside a investigação, decidiram não questionar o governador.

A ausência de perguntas por parte da PGR e do ministro Moraes pode indicar que o foco da oitiva era apenas confirmar pontos específicos relacionados à atuação de Bolsonaro e ao envolvimento de Tarcísio nos acontecimentos investigados.

Possibilidade de candidatura em 2026

Apesar de seu nome ser amplamente ventilado nos bastidores da política como potencial presidenciável apoiado pelo bolsonarismo, Tarcísio tem sido categórico ao afirmar que sua prioridade, neste momento, é seguir com o projeto de governo em São Paulo e buscar a reeleição em 2026.

“Minha preocupação é continuar o trabalho que começamos em São Paulo. Ainda há muito o que fazer, e minha intenção é continuar essa missão”, disse em outras ocasiões.

Nos bastidores, no entanto, aliados do ex-presidente veem em Tarcísio um nome viável e competitivo, com forte apelo junto ao eleitorado conservador e um perfil mais técnico e moderado, o que poderia atrair também setores do centro político.

Conclusão

O depoimento de Tarcísio de Freitas reforça a estratégia de defesa de Jair Bolsonaro, que nega qualquer intenção de golpe ou envolvimento com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ao mesmo tempo, o governador busca consolidar sua imagem como um gestor eficiente e equilibrado, que mantém respeito pelo ex-presidente, mas sem abrir mão de sua própria trajetória política.

O cenário para 2026 ainda é incerto, mas com declarações como essa, Tarcísio se posiciona como um dos nomes de destaque no debate político nacional — mantendo-se fiel ao legado do bolsonarismo, mas trilhando seu próprio caminho.

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